Couro, atitude e erotismo marcam o novo ensaio protagonizado por Yann, que presta homenagem ao universo icônico de Tom of Finland. Fotografado por Thomas Mundell, o editorial resgata o imaginário fetichista que consagrou o artista finlandês como símbolo da cultura gay, com imagens que exploram a masculinidade, o desejo e a liberdade de expressão através de uma lente contemporânea e provocadora.
Aos 37 anos, Yann é ativista pelos direitos LGBTQIA+ e também cantor. Radicado em Nova York, ele compartilha nas redes sociais momentos da sua vida nos Estados Unidos. Filho da atriz Claudia Alencar, Yann cresceu cercado de referências criativas, o que influenciou diretamente seu olhar e sua forma de estar no mundo.
Em entrevista exclusiva, o artista fala sobre a experiência de fotografar um ensaio inspirado em Tom of Finland, os limites entre o sensual e o provocante, seu gosto por provocar reações, e como é viver fora do Brasil.
Como foi fotografar esse ensaio inspirado no Tom of Finland?
Fotografar esse ensaio inspirado no universo de Tom of Finland foi uma experiência profundamente simbólica e emocionante pra mim. A arte dele sempre teve um papel importantíssimo na construção da identidade e da liberdade estética dentro da cultura LGBTQIA+. Ele desafiou tabus, criou novas representações de desejo e masculinidade, e abriu espaço pra que muitos pudessem se ver com orgulho em imagens ousadas, poderosas e sem censura.
Esse ensaio foi minha forma de homenagear esse legado — não como uma simples reprodução, mas como uma reinterpretação da sua linguagem visual a partir do nosso olhar contemporâneo. Trabalhar com o fotógrafo Thomas Mundell foi uma parceria muito inspiradora. Juntos, buscamos traduzir o espírito provocativo e afirmativo da obra de Tom, mas também colocamos nossa própria sensibilidade e perspectiva nesse processo. Foi um tributo com alma, desejo e intenção.
Você se sente à vontade explorando esse lado mais sensual?
Hoje em dia, sim — me sinto cada vez mais à vontade explorando esse lado mais sensual. Mas nem sempre foi assim. Trabalhos como esse ensaio foram fundamentais nesse processo de libertação e autoconhecimento. Eles me ensinaram que o corpo não é apenas algo que se observa ou julga, mas também uma ferramenta poderosa de expressão e criação artística.
Através da fotografia, aprendi a enxergar meu corpo com mais generosidade e intenção. Descobri que posso usá-lo não só pra provocar ou seduzir, mas pra contar histórias, provocar reflexões e homenagear a cultura LGBTQ+. Existe algo muito bonito em transformar vulnerabilidade em imagem e arte.
Qual é o limite entre o sensual e o provocante para você?
Esse é um limite que ainda estou descobrindo — e, pra ser honesto, nem sei se quero realmente impor esse tipo de fronteira pra mim. Existe uma linha tênue entre o sensual e o provocante, mas eu gosto justamente de dançar em cima dela. Pra mim, a provocação pode ser uma forma de liberdade, de questionamento, de jogo. E a sensualidade não precisa ser contida ou tímida — ela pode ser ousada, intensa, desafiadora.
A beleza está em explorar esses territórios sem medo, entendendo que o corpo e o desejo também são linguagens. E às vezes, é no risco que nasce a arte mais autêntica.
Você gosta de provocar? Como o público reage a isso?
Na realidade, eu nem penso tanto na provocação como objetivo. Meu instinto é criar imagens que sejam libertadoras pra mim e que reflitam meus sentimentos e minha vontade de experimentar. A provocação, quando acontece, acaba sendo uma consequência natural desse processo. Sempre acreditei na arte como forma de transgressão, de questionamento, de expressão honesta.
Usar a fotografia como meio pra isso é algo relativamente novo pra mim — comecei só esse ano — e a resposta tem sido muito surpreendente. Iniciei essas colaborações com fotógrafos incríveis, como o Thomas Mundell, imaginando que seria apenas um projeto pequeno pro meu Instagram. Mas tem crescido de forma orgânica e intensa, o que só reforça pra mim o poder que existe quando a gente se permite ser visto de forma autêntica.
Como viver fora do Brasil te ajuda ou te desafia a ser quem você é?
Na realidade, viver fora do Brasil não muda tanto quem eu sou. No Brasil, a música sempre foi meu canal principal de expressão, e agora, fora, estou apenas explorando outras formas de arte que também fazem parte de mim. A essência continua a mesma — o desejo de criar, de me comunicar, de provocar sensações.
Tenho trabalhado em novos projetos, inclusive músicas que estão por vir, e que se conectam ainda mais com esse universo mais sensual, pulsante, dançante. Estar em outro lugar me dá novas referências e experiências, mas o impulso criativo vem do mesmo lugar: de dentro.
Você vem de uma família de artistas. Como isso influenciou seu olhar e sua liberdade?
Isso influenciou completamente meu olhar e minha liberdade desde cedo. Sempre fui encorajado a explorar meu lado criativo, fosse através do desenho, do teatro, da música, ou do que quer que despertasse minha curiosidade. Tive a sorte de crescer num ambiente onde a arte nunca foi limitada, onde qualquer expressão era válida e bem-vinda.
Isso me deu uma base muito sólida de confiança pra continuar evoluindo minha forma de me expressar. Sempre houve esse espaço pra experimentar, me reinventar, e me conhecer através da arte.